Costumo brincar que Brisa é uma neném muito medrosa. Com certeza você conhece ou já ouviu falar de cães ou gatos muito assustados e até mesmo muito reativos. O que talvez muitos tutores não saibam é que estes comportamentos podem indicar que o animal sofreu um trauma.
As cenas dos cachorros subindo em cima das casinhas dos abrigos no Rio Grande do Sul e até mesmo fazendo o movimento de nadar quando eram carregados são reflexo do trauma que sofreram. Muitos nunca viram água em abundância e talvez nunca tenham tido contato com rio, praia, piscina. Muitos tiveram que nadar bastante. A forma como a água foi imposta a eles, com certeza, gerou um trauma.
O adestrador e especialista em comportamento animal, Armando Gomes, explica que os pets, cães ou gatos, estão sujeitos a traumas, reversíveis ou não, tanto em uma situação de desastre, quanto no dia a dia em casa.
O que muitos tutores nem imaginam é que barulhos como o do cabo da vassoura caindo no chão ou da porta batendo por conta de um vento forte podem causar traumas. “É difícil para o animal entender que um vento forte passou e a porta bateu nele e fez um estampido dela fechando”, salienta Gomes.
O cachorro que tenta descer do sofá e cai, que por curiosidade puxa algo da mesa e este objeto cai e faz barulho, puxa um fio que está na tomada para brincar e leva um choque, o cão que está dormindo e acorda ao ouvir o grito de uma pessoa; pode desenvolver um trauma. Situações comuns, que podem gerar aversão ao local onde aconteceu, ao objeto envolvido, ou até mesmo desenvolver um comportamento reativo as pessoas.
A boa notícia é que em 95% dos casos é possível reverter o trauma. Apenas 5% dos animais não conseguem se recuperar com os diversos tratamentos que vão desde acompanhamento com especialistas e até medicações.
“Em alguns casos é preciso medicamentos como floral de bach, o veterinário pode prescrever calmantes e tranquilizantes para equilibrar o cão aliado a uma metodologia positiva buscando criar uma espécie de contracondicionamento para tirar a reatividade”, explica Gomes.
Algumas dicas são importantes para ajudar o pet a não desenvolver traumas com situações do cotidiano. Gomes destaca algumas como: acostumar o cão desde filhote a ouvir estampidos enquanto está comendo para fazer uma associação positiva do barulho, apresentar a focinheira desde pequeno, o tutor precisa ter cuidado ao tocar nas orelhas, unhas , dentes e pelos para realizar procedimentos de limpeza e higiene.
“Alguns comportamentos do tutor podem gerar traumas como carregar o cão, que pode parecer um gesto de carinho e amor, mas se pegar o animal de mal jeito ele pode sentir uma dor na patinha ou na cervical e se tornar reativo. Aí toda vez que ele é carregado, ele avança no tutor. O animal está comendo e você pega no prato de qualquer jeito, ele pode apresentar comportamento de dominância e desenvolver posse por repulso. Isso vai gerar reatividade”, alerta Gomes.
A forma saudável de criar um animal de estimação é respeitar a característica de cada espécie e de cada raça. Sem querer humanizar o animal. “Cachorro gosta de rotina, tem que ter disciplina. Hora de comer, de passear, de brincar, de descansar, de gastar energia”, salienta Gomes.
Importante também o tutor estar atento aos sinais de que o pet não está bem e pode ter desenvolvido um trauma. Uma coisa é certa: quanto mais cedo o treinamento e o adestramento, melhor para a convivência. Ah, nunca medique seu melhor amigo sem consultar um veterinário.
Artigo/Por: Maíra Portela
Foto: Redes Sociais