Fundação Casa de Jorge Amado é reaberta com homenagens a escritoras

“Se for de paz, pode entrar”. É com essa mensagem que o público é recebido na Fundação Casa de Jorge Amado, localizada no Largo do Pelourinho, em Salvador. E quem entrar na instituição a partir desta quinta-feira (12) verá muitas novidades: após a reforma, a Fundação está maior e mais moderna, com novos espaços expositivos que celebram não só Jorge Amado, mas também as escritoras Zélia Gattai e Myriam Fraga.

“Após a reforma, a gente conseguiu ampliar as exposições. Isso é um benefício muito bacana para o grande público, uma forma de contemplarmos diferentes aspectos da obra do escritor Jorge Amado”, contou Ticiano Martins, coordenador de projetos da fundação.

A visita começa pela famosa escadaria, que leva ao primeiro andar e que simula, em seus degraus, as lombadas dos livros escritos por Jorge Amado, em ordem cronológica. A escadaria começa com O país do Carnaval, publicado em 1931, e passa por outros grandes sucessos do escritor tais como Gabriela, Cravo e Canela; Dona Flor e seus Dois Maridos; Mar Morto; Tieta do Agreste e Capitães da Areia.

As salas do primeiro andar, por sua vez, criam uma linha do tempo e celebram o escritor brasileiro que é um dos mais adaptados e também um dos mais traduzidos em todo o mundo: seus livros já foram lidos em 49 línguas e são conhecidos em pelo menos 57 países.

A história do escritor se inicia nas terras cacaueiras da Bahia, onde nasceu, perpassam sua militância política e se eternizam no famoso banco de cacos de azulejos da Casa do Rio Vermelho, que fica ao lado de uma mangueira, onde estão depositadas as cinzas do casal Jorge Amado e Zélia Gattai. Os cenários do primeiro andar destacam esses aspectos e detalham toda a vida do escritor, apresentando também itens do seu acervo pessoal, como as famosas camisas coloridas e a máquina de escrever que ele utilizava.

“A gente conseguiu agregar uma linha do tempo mais interativa e colorida, como tem que ser Jorge Amado. Sua tropicalidade tem que ser representada. Antes [da reforma] aqui era muito branco, era muito institucional. Mas agora a gente trouxe o colorido e trouxe aspectos na linha do tempo dele, como a delicadeza do pé de cacau, que vai transitando por todas as salas, chegando até a mangueira, que é uma representação da Casa do Rio Vermelho, onde estão depositadas as cinzas dos dois, tanto de Jorge quanto de Zélia”, explicou Martins, em entrevista à Agência Brasil.

Os andares superiores, por sua vez, expõem parte do acervo da escritora e fotógrafa Zélia Gattai, companheira de Jorge Amado, e também da jornalista e poeta baiana Myriam Fraga, que foi a primeira diretora da instituição e uma de suas criadoras. Há também uma exposição permanente que apresenta ilustrações presentes nos livros de Jorge Amado. “Temos uma sala toda dedicada a Myriam Fraga, falando de suas poesias e dela como mulher e como gestora desse espaço por 30 anos. Temos também um espaço todo dedicado a Zélia e o Café Teatro Zélia. A gente traz um espaço todo dedicado a ela, às suas obras, fotos e objetos pessoais. Zélia foi uma figura muito relevante na vida de Jorge Amado, mas também para a criação da fundação”, disse Angela Fraga, diretora executiva da Fundação Casa de Jorge Amado e filha da poeta e jornalista Myriam Fraga.

Outro grande homenageado pela instituição é Exu, o orixá que foi escolhido pelo próprio Jorge Amado como guardião da casa. “O orixá não é do mal. Isso vem em conformidade ao próprio Jorge Amado que, enquanto deputado federal, criou a lei que garantia a liberdade religiosa no país. A gente quer promover essa discussão. Aqui tem espaço para todo mundo, para qualquer segmento político ou religioso. Essa é a casa, como queria Jorge Amado, do povo da Bahia”, disse Martins.

Após a reforma, Exu terá uma exposição permanente composta por várias obras pertencentes ao acervo da Fundação Casa de Jorge Amado, que foram doadas por artistas plásticos como Mário Cravo, Carybé e Calasans Neto para ilustrar as capas de uma revista chamada Exu e que foi editada e publicada pela fundação. “A gente tem muitas obras de arte que foram doadas por artistas plásticos, que eram as capas da revista Exu, que foi uma edição que a gente teve durante alguns anos. Foram 35 números dessa revista cultural que a gente não conseguiu mais viabilizar. Mas aí a gente ficou com as obras e agora a gente dedica todas elas ao Exu, que é o nosso guardião”, explicou Angela.

Já o mirante, que tem uma bela vista para o Pelourinho, foi todo reformado e agora irá abrigar também exposições temporárias. “Vamos manter o mirante aberto para que as pessoas vejam a Bahia e todos os telhados do Pelourinho e para que, de uma certa forma, elas notem como isso representa geograficamente a distribuição social de Salvador. Jorge Amado não escolheu a fundação à toa. Aqui é o principal cenário de sua obra. Daqui vemos a parte mais alta da cidade, onde estão as casas melhores e mais coloridas. Olhando para a parte mais baixa, você observa as casas mais simples. Você consegue ter toda essa percepção aqui, por uma janela”, falou Ticiano.

Reforma

Neste ano, a instituição cultural passou pela maior restauração desde a sua inauguração em 7 de março de 1987. A sede, que era composta pelas casas de números 49 e 51 – as conhecidas Casas Azul e Amarela do Largo do Pelourinho – foi agora conectada a mais um prédio, o de número 47, a chamada Casa Branca.

Com isso, o acervo de pesquisa, composto por mais de 350 mil documentos de Jorge Amado e Zélia Gattai, foi todo transferido para este novo espaço e agora está preservado com equipamentos modernos e arquivos deslizantes, o que facilita também o acesso por pesquisadores ou curiosos.

Agora, afirma Angela Fraga, a instituição está mais preparada para lidar com suas missões de preservação do acervo do casal e também de ser um ponto de encontro literário, estimulando o público à leitura e à escrita.

“A Fundação é uma instituição cultural privada, sem fins lucrativos, que foi instituída em 1986, ainda na presença de Jorge Amado, com o fim de guardar o seu acervo de documentos, todas as edições de seus livros, as correspondências, os manuscritos e as fotos produzidas por Zélia (Gattai), que foi fotógrafa e companheira dele por muitos anos”, explicou Angela. “A verdadeira missão é a guarda do acervo. Só que o escritor mesmo declarou, quando da inauguração da casa, que ele gostaria que a casa não fosse só um centro de documentos ou um arquivo morto, uma espécie de museu. Ele queria que ela fosse um centro vivo, produtor de cultura e de literatura, incentivando jovens escritores e jovens leitores. Então, a gente está nessa missão”, acrescentou.

Reprodução: Agência Brasil

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