Prefeitura de Salvador vai homenagear Letieres Leite com nome da Escola de Música e Artes e Sala de Espetáculos

A Escola de Música e Artes e a Sala de Espetáculos Letieres Leite, atualmente em obras e com previsão de serem inauguradas em 2025, no Comércio, abraçam a música e o legado do Maestro Letieres Leite, fortalecendo ainda mais Salvador como Cidade da Música. A criação deste novo equipamento é um marco no Complexo Cidade da Música, que visa solidificar Salvador como a capital mundial da música.

A homenagem ao maestro Letieres Leite, que faleceu em 2021, se dá não só pela sua atuação fundamental na construção da história da música feita em Salvador, a exemplo da criação da Orkestra Rumpillezz, que funde as matrizes percussivas do candomblé com o jazz, e o Rumpilezzinho, laboratório musical e socioeducativo voltado para jovens músicos, mas, sobretudo, pelo seu trabalho na criação do método Universo Percussivo Baiano (UPB).

A metodologia é fruto de mais de 30 anos de estudos sobre a presença sonora de elementos de matriz africana na música produzida na diáspora negra nas Américas e, particularmente, no Brasil. O maestro e educador sistematizou ferramentas de ensino tendo como diretriz e base, o legado musical constituído pelas populações negras nas diásporas africanas e a consciência de que a música popular brasileira se estrutura a partir das suas raízes negras.

Como disse Letieres: “A proposta é estudar a música popular de todos os gêneros, do choro, samba e baião, com um aprofundamento nas questões rítmicas. E uma das maneiras mais seguras é nos apoderarmos das ferramentas e formas de como essa música é praticada na sua origem, dentro do terreiro, nas ruas, nos blocos; trazer essa tecnologia e metodologia para dentro dos lugares de estudo. Porque a música de cultura africana tem um rigor científico sim, só que dentro de outras normas”.

Reconhecido internacionalmente, o método UPB, além de aplicado no programa social Rumpilezzinho, serve também como objeto de pesquisa de publicações acadêmicas na Universidades Federais da Bahia (UFBA) e do Recôncavo da Bahia (UFRB), e integra parte do debate sobre o pensamento e ensino de música no Brasil e exterior, figurando como referência em importantes espaços/organismos da música, como a Orquestra Jovem Tom Jobim (São Paulo), Artur O’Farril & AfroLatin Jazz Orchestra (EUA/México) a Berliner Junged Jazz Orchestrer (Alemanha), entre outros.

O prefeito de Salvador, Bruno Reis, destaca o novo cenário cultural, educativo e musical que a cidade se encontrará com esses dois novos equipamentos. “Este projeto representa um marco no fortalecimento da economia criativa da nossa cidade e faz uma justa homenagem ao saudoso Maestro Letieres Leite, que tanto contribuiu para a cultura musical de Salvador e do Brasil. A Escola de Música e Artes será um verdadeiro celeiro de talentos, proporcionando aos jovens de Salvador as ferramentas necessárias para desenvolverem suas habilidades e se destacarem no cenário musical. Quando entregarmos este projeto, teremos ali naquela região o maior quarteirão cultural do país, se somando a outros equipamentos, como a Cidade da Música e a Casa das Histórias e o Arquivo Público Municipal. Então, neste novo equipamento cultural que entregaremos para a cidade, nada mais justo do que reconhecer e exaltar quem tanto contribuiu para a nossa cidade como Letieres Leite”, afirmou.

A Escola de Música e Artes Letieres Leite passa, assim, a ser também a casa das orquestras afrosinfônicas, um elemento único de força e identidade da cultura musical de Salvador, com uma metodologia própria de ensino, desenvolvida também junto a Ubiratan Marques, maestro da Orquestra Afrosinfônica, e Fabrício Mota, da IFÁ. O espaço de formação reunirá renomados professores de música do Brasil, acolhendo estudantes baianos e de fora do país, interessados em aprofundar conhecimentos na base da música afro-baiana, bem como em outros aspectos do mercado musical, como pós-produção, área técnica, produção executiva e composição audiovisual.

Para o titular da pasta de Cultura e Turismo, Pedro Tourinho, a homenagem a Letieres é uma representação única do impacto do maestro para a música de Salvador e da Bahia. “Abraçar Letieres Leite, com todo seu conhecimento e seu trabalho, numa Escola de Música que tem tudo para ser uma das mais importantes do mundo, é um privilégio que apenas Salvador tem. A Música feita na Bahia deve muito a Letieres, e com a Escola e a Sala de Espetáculos teremos seu legado garantido também para as próximas gerações”, pontua.

Cooperação internacional – Na próxima segunda-feira (10), será celebrada a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica para a gestão de equipamentos culturais entre a Prefeitura de Salvador e a Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI). O acordo a ser assinado prevê a gestão do Complexo Cultural de Salvador, que inclui o Arquivo Público Municipal, a Cidade da Música da Bahia, a Casa das Histórias de Salvador e a Galeria Mercado, além da elaboração de todo plano didático e de sustentabilidade da Escola de Música e Artes e da Sala de Espetáculos Letieres Leite, que estão em construção e têm previsão de serem entregues em 2025. Os recursos para a Escola e a Sala de Espetáculos foram viabilizados pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).

Um Acordo Executivo de Cooperação Técnica estabeleceu que esses equipamentos culturais de Salvador sejam geridos em conjunto com a OEI, aproveitando a expertise da organização na gestão dos espaços. A Organização de Estados Ibero-americanos tem experiência na gestão de espaços de cultura no Brasil e no mundo e trabalha com governos de 23 países-membros.

“Para nós da OEI participar de um empreendimento cultural desta envergadura reafirma o nosso propósito de apoiar políticas públicas voltadas para a preservação e a formulação de acervos e ações culturais. Nosso papel é de facilitador para os entes conveniados, incluindo captação de recursos por meio das leis de incentivo fiscal, planejamento, acompanhamento e monitoramento de sua execução” – explica Leonardo Barchini, diretor da OEI no Brasil.

Letieres Leite – Apaixonado pela cultura baiana, Leitieres dos Santos Leite teve o primeiro contato com a percussão através de aulas de música do projeto de orquestras afro-brasileiras desenvolvido por Emilia Biancardi, sob a regência do mestre Moa do Katendê. Em 1985, quando foi morar em Viena, na Áustria, passou por diversos projetos que mesclavam o jazz, música brasileira e percussão, enriquecendo assim suas composições, resultando na elaboração de temas já com o estilo que viria a ser a marca da Rumpilezz: composições de sopro e percussão.

Quando voltou ao Brasil em 1995, recomeçou pesquisas sobre o universo percussivo baiano, ao mesmo tempo em que trabalhava na elaboração de arranjos de mais de uma centena de discos de artistas soteropolitanos. Em 2002, funda a Academia de Música da Bahia, na qual aplica o método de ensino que ele chama de Universo Percussivo Baiano (UPB), aprofundando o trabalho pedagógico focado na rítmica afro-baiana que dá origem a Orkestra Rumpilezz e ao Rumpilezzinho.

O projeto Rumpilezz, já com este nome, começou no Teatro Gamboa, em 2005, onde Letieres promoveu o encontro de músicos da cena instrumental baiana com percussionistas de atabaques, os Alabés. Em 2006, Letieres criou a Orkestra Rumpilezz, considerado o maior orgulho dos 30 anos de carreira. Além de reger a orquestra, Letieres é o responsável por todo o conceito – figurinos, ambientação – passando pelas composições e arranjos de sopro e percussão. Todo este trabalho foi lançado em 2009 no álbum inaugural Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz.

OEI e Prefeitura – Em janeiro de 2024, a OEI e a Prefeitura inauguraram a Casa das Histórias de Salvador, o primeiro centro de interpretação do patrimônio na capital baiana, que está sob a gestão, em modelo de soft opening, da OEI, resultado de uma parceria com a prefeitura da cidade por iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult).

O espaço apresenta uma nova narrativa sobre os quase cinco séculos da cidade, destacando as histórias, os saberes e fazeres de pessoas comuns, geralmente ignoradas pela história oficial, com foco na contribuição da população negra e indígena para a formação da cidade, convidando a comunidade a participar ativamente e a refletir sobre os significados, a memória e o futuro da cidade. No mesmo prédio funciona o Arquivo Público Municipal, que reúne cerca 5 milhões de documentos históricos, desde o século XVI até os dias de hoje, e é um lugar para incentivar a pesquisa sobre a Bahia e, especialmente, sobre Salvador, a primeira capital do Brasil.

A OEI também é responsável, desde a abertura, em janeiro de 2024, pela gestão da Galeria Mercado, localizada no subsolo do Mercado Modelo e que funciona como uma galeria de arte e um espaço de preservação e valorização da história do mercado. A exposição permanente tem obras de artistas como Mario Cravo Jr., Rubem Valentim e Vinicius S.A, com a exuberante instalação “Lágrimas”, e fotografias que retratam o Mercado Modelo no passar dos anos e de seus ícones como Maria São Pedro e Camafeu de Oxóssi.

Texto: Ascom Secult

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