Com quadros de até dois metros feitos a base de madeira de lei e conchas,
a arte de Ana Laura Lacerda é exemplo de sustentabilidade
Artista baiana produz arte com conchas desde adolescência e admira os mares do litoral baiano; confira
A Bahia tem a maior faixa litorânea do Brasil. A Baia de Todos os Santos, com seus 1233 quilômetros de extensão, faz parte da chamada Amazônia Azul. Por ser a principal via de transporte do comércio exterior, pelas reservas de petróleo e gás e pela diversidade dos recursos naturais, é um patrimônio a ser preservado e valorizado. “Respeitar o meio ambiente é utilizar tudo que a natureza, com sua fauna e flora, nos oferece, tendo sempre a consciência da preservação e sustentabilidade”, define a artista que carrega no nome a descendência do engenheiro que construiu o Elevador Lacerda.
Assim como o equipamento que é cartão postal da cidade de Salvador, Ana Laura gosta de estar debruçada sobre o mar, sua fonte de inspiração desde a juventude. É assim que renova a paixão por conchas e transforma seu encanto e talento para produzir artes majestosas. Intitulado Arte do Mar, seu projeto tem uma marca inédita no mundo. Conchas e búzios de diversos tamanhos, formatos e cores formam paisagens-mosaico deslumbrantes que decoram desde um grande resort a residências na capital baiana, e outros estados. As telas, que encantam pelo tamanho e delicadeza, não estão à venda. O propósito de Ana Laura é reunir um acervo artístico para o projeto de exposições itinerantes pela Bahia e outros estados do Brasil. “Quem sabe do mundo… muitos países estão atentos à preservação do mar e dos seus frutos”, pontua a artista.
Arte do Mar
Cada peça é uma janela para um mundo encantador, que varia desde paisagens marinhas até elementos como veleiros e peixes. A matéria-prima prioritária vem da Baía de Todos os Santos. Em algumas criações, a artista usa também conchas de outros países, vindas da África, Indonésia, Filipinas e Japão. Ao adquirir 99% das conchas nas comunidades pesqueiras das ilhas da Baía de Todos os Santos, a artista contribui com a economia local sem qualquer prejuízo ao meio-ambiente.
“As conchas têm utilidades diversas. Produzem pérolas de alto valor, seus moluscos servem de alimento para deliciosas moquecas servidas nos restaurantes da Bahia, servem como adereço em colares”, lista a artista, destacando que a matéria-prima da sua arte é fruto do material descartado pelas marisqueiras. “Fiz questão de obter junto ao INEMA-BA, órgão regulador do meio ambiente em nosso estado, um certificado que comprova que minha atuação não é agressiva ao ecossistema marinho. Ao contrário, eu ajudo no descarte e gero renda para as marisqueiras”.
Ana Laura Lacerda apoia iniciativas que favoreçam o meio ambiente, a exemplo da Lei da Economia do Mar aprovada em 19 de dezembro de 2023. O projeto criado pelo deputado estadual Eduardo Salles, tem como objetivo estabelecer regras e parâmetros para as atividades econômicas que acontecem nas praias da Bahia tendo o mar como meio de entretenimento, turismo e arte.
O Museu do Mar, localizado no Santo Antônio Além do Carmo, Centro Histórico de Salvador, é outro projeto que tem sua admiração. Criado por Aleixo Belov, o Museu do Mar tem expostos objetos das viagens realizadas pelo navegador nos mares de várias partes do mundo. Acompanhando pelas redes sociais museus destinados exclusivamente às conchas, a exemplo do que existe nas Bahamas, a artista sente falta na capital baiana, de iniciativas semelhantes. “Museus podem movimentar o turismo e aquecer a economia, gerando renda e incentivando a cultura”, sugere Ana Laura.
Sobre a artista: Nascida em Salvador, Ana Laura Lacerda tem 62 anos. Chegou a estudar Arquitetura, mas preferiu trilhar o caminho das artes. Sua paixão por conchas começou na juventude. Tinha pouco mais de 20 anos na primeira exposição solo no Foyer do Teatro Castro Alves (TCA), em 1982. Três anos depois, ganhou reconhecimento no Salão Paulista de Belas Artes. Por conta da maternidade acabou dando uma pausa na carreira. A retomada foi em 2020, pouco antes da pandemia. Uma de suas obras, com quase três metros, decora um grande hotel da cidade. No seu ateliê, no Santo Antônio Além do Carmo, a artista produz com objetivo de realizar uma mostra comemorativa e itinerante, que acontecerá em Salvador e outras capitais. “Cada concha tem uma beleza única, a variedade de cores, formas e texturas impressiona… Aí é a infinita arte do Criador!”, conclui.
(03.06.2024)
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